Segundo Jaques Jesus, doutorando em Psicologia Social pela UNB, esse senhor se utiliza do conceito ultrapassado de QI, superado pela ciência psicológica e pelo bom senso, em virtude das lutas dos movimentos em prol dos direitos humanos. Por esse conceito, determinados grupos sociais têm menor desempenho comparativamente a outros em virtude de características inatas, no caso em questão, a região de origem. Esse senhor se esqueceu de que as diferenças sociais, as características culturais, as conjunturas políticas e as construções históricas são as verdadeiras responsáveis por graves desigualdades entre os seres humanos, e não a sua cor, raça, etnia, sexo, orientação sexual, idade, habilidade física ou local de origem. Essas desigualdades vêm se solidificando por pessoas com pensamentos retrógrados e com ausência de conhecimento como é o caso de Antonio Dantas. Se não bastasse, foi adiante e declarou que "o baiano toca berimbau porque só tem uma corda, se tivesse mais cordas, não conseguiria”. Dizendo isso se auto-declarou uma pessoa franca e que "reconhece a limitação dos que o cercam". Ou seja, ele acha que nós baianos somos ignorantes por natureza, apesar de se achar muito esperto!
Esse tipo de declaração, nitidamente preconceituosa e racista, não pode passar incólume. O referido senhor parece ainda hoje defensor das “teorias racialistas”, que nos séculos XIX e XX fundamentaram o chamado “racismo científico” base de movimentos de extrema direita cuja maior expressão foi o nazi-fascismo. Na Bahia, tais referências vitimaram profundamente todos nós, afro-descendentes, que tivemos nossa cultura, religião e vida social violentamente reprimidas, sob o argumento da suposta inferioridade racial. É estarrecedor que esse tipo de mentalidade continue tendo espaço em nossa sociedade e na comunidade acadêmica.
Declarações da Associação de Reitores veiculadas na mídia reconhecem que o desempenho ruim dos quatro cursos de medicina das universidades federais no ENADE deveu-se a um boicote dos estudantes por entenderem que este tem um caráter pontual e punitivo. São nesses Estados que os Diretórios Acadêmicos têm maior atuação no repúdio a esse tipo de avaliação. Isso se deu também no PROVÃO, no ENADE de 2004 e no ENADE de 2007. Além de repudiarmos essa atitude, devemos nos atentar, que de acordo com o DAMED (Diretório Acadêmico de Medicina da UFBA) as condições de infra-estrutura e ensino da FAMED-UFBA (Faculdade de Medicina da UFBA) são semelhantes às encontradas em qualquer universidade Federal no Brasil, denunciadas há décadas pelos movimentos de professores, funcionários e estudantes. Isso tudo faz parte do projeto de sucateamento das Universidades Brasileiras, patrocinado por vários governos, inclusive o atual. Um dos maiores problemas dos cursos de medicina das instituições federais hoje é a dívida dos hospitais universitários. O débito já soma R$ 450 milhões, o que dificulta a modernização dos equipamentos. Com as declarações do coordenador Antonio Dantas fica claro que o boicote dos estudantes se estende também à coordenação do curso na Bahia.
Ainda de acordo com o DAMED as declarações feitas pelo Coordenador de curso Antônio Dantas de que o baixo desempenho da faculdade está relacionado ao sistema de cotas da UFBA e ao baixo QI dos baianos embasam-se nas idéias de "contaminação" racial, determinismo genético e inferioridade dos povos, as quais legitimaram a escravidão e os campos de concentração nazistas. Não possuem, ainda, embasamento real, haja vista o bom desempenho obtido pela UnB e UERJ, pioneiras na implementação da política de Ações Afirmativas. Além disso, em 2004, quando não houve participação de alunos provenientes do sistema de cotas, a nota da FAMED também foi baixa.
O surto de incapacidade externado nas declarações de Antonio Dantas o coloca como exceção entre os baianos, terra de um povo inteligente, educado e receptivo, terra de encantos, de beleza, de magia, de cultura, de música... nomes como Ruy Barbosa, Teixeira de Freitas, Glauber Rocha, Milton Santos..., tremeriam como fomos, outrora, exortados a fazê-lo por Castro Alves, diante os horrores dos porões dos navios negreiros, mancha vergonhosa em nossa história. E o que diriam os versos de Maria Bethânia, Gal Costa, Simone, Caetano Veloso, Gilberto Gil, João Gilberto, entre outros?!
Com isso, o PSOL da Bahia vem a público protestar vigorosamente contra esse atentado contra nosso povo e nossa cultura, ao tempo em que exige providências imediatas das instâncias da UFBA. Uma pessoa que dá declarações racistas desse tipo não tem condições de ocupar um cargo de direção e nem mesmo de professor, ou seja, responsável pela educação de nossa juventude, especialmente sendo ele coordenador do Curso de Medicina mais antigo do Brasil, fundado há mais 200 anos.
Marcos Mendes
Presidente do PSOL - Bahia / Partido Socialismo e Liberdade
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